Desenvolvimento Comunitário

Distrito de Homoíne: a marcha para o progresso

Na memória de Moçambique e do mundo, o nome Homoíne lembra guerra e sofrimento, desde o massacre de 17 de Julho de 1987. Porém, quando passam agora 33 anos após esse trágico acontecimento, Homoíne é um distrito em franco progresso, procurando recuperar o seu estatuto histórico de celeiro da Província de Inhambane.

Na terra de gado

O nome do distrito, Homoíne, é uma corruptela portuguesa de Honwini, termo que na língua Xitswa, significa “terra de gado”. A palavra primitiva é “homo”, que significa boi. O nome foi dado pelos nativos, em alusão a uma das suas principais riquezas: a criação de gabo bovino! Assim, diz-se: Ka-Honwini, isto é, na terra de gado.

Com cerca de 1 942 km² e uma população de pouco mais de 150 mil habitantes, Homoíne situa-se na parte central da província de Inhambane, fazendo limites com cinco distritos, nomeadamente: Morrumbene, Jangamo, Inharrime, Panda e Funhalouro e ainda a cidade da Maxixe.

Graças ao seu privilegiado potencial agro-geológico, Homoine foi, ao longo de várias décadas, a principal fonte de produtos agrícolas da Província de Inhambane, incluindo: gado bovino e caprino, caju, milho, algodão, entre outras culturas. Originalmente, o distrito cobria uma vastíssima região, que incluía o actual distrito de Panda e vasta porção do Município da Maxixe.

Em termos de infraestruturas económicas e sociais, além do comércio geral que dava vida à Vila, a Missão Católica de S. João de Deus, ali implantada, constituía um importante centro da dinamização social e económica da região, com largas infraestruturas de educação – incluindo uma Escola Normal de Formação de Professores Primários – e uma oficina de automóveis, então a maior de Inhambane.

Foi com o reconhecimento destas potencialidades agropecuárias que o governo, logo nos anos seguintes à independência nacional, para ali enviou várias dezenas de antigos combatentes da luta armada de libertação nacional, que foram fixados na localidade de Chingiguire, a 10 kms da Vila-Sede

Porém, a partir dos finais dos anos 1970, a cidade da Maxixe, a uns 20 Km, começou a disputar activamente a liderança económica de Inhambane, quando se tornou placa giratória da economia do trabalho migratório para as minas da África do Sul, alimentada por mão-de-obra recrutada nos distritos mais a norte, nomeadamente de Morrumbene, Massinga e Vilanculos, e para quem Maxixe era ponto obrigatório de partida e de chegada.

Com a guerra dos 16 anos, que fustigou severamente a região – bem antes da tragedia de 17 de Julho de 1987 – Homoine viria a cair em vertiginoso declínio, incluindo com o abandono dos seus principais agentes económicos, que se mudaram ou para Maxixe ou mesmo Maputo. Aí a interioridade da região acentuou o seu isolamento, com larga vantagem para Maxixe, cidade situada no litoral e na principal via terrestre para Maputo. Por alturas do final da guerra Homoine era uma Vila destroçada, física e espiritualmente. Dela apenas se destacavam escombros.

A caminho do progresso

Esta imagem, de abandono e desolação, pairando sobre Homoine, é entretanto, assunto do passado. Nos últimos anos o distrito reergueu-se e tem estado a recuperar o verde exuberante das suas férteis terras. Há sobretudo energia visível do sector privado, em particular na área agropecuária, um pouco pelas diferentes localidades do distrito.

No renascimento do sector agrário, o distrito tem-se destacado na cultura de milho, de hortofrutícolas e de oleaginosas, bem como da castanha de caju, uma indústria ora em pleno processo de franca reabilitação e expansão, após décadas de descalabro!

O projecto Inhamussua Agrícola

Um dos exemplos mais emblemáticos do renascimento de Homoine é o projecto “Inhamissua Agrícola”, um investimento de capitais sul-africanos, ocupando uma area total de de 360 hectares, explorados progressivamente ano apos ano, e que se dedica, principalmente, à produção da macadâmia, exportada para o estrangeiro. Alem desta cultura, a Inhamussua Agricola produz igualmente piripiri e milho, bem como largos volumes de fruta e hortícolas como tomate, repolho, pimento, papaia e outras.

Vista parcial do projecto “Inhamussua Agricola”

O projecto surge em 2014 , tendo iniciado as suas actividades em 2016, e empregando, a tempo permanente, 30 trabalhadores, dos quais 16 mulheres e 14 homens.

O mercado da Inhamussua Agrícola vai do próprio distrito de Homoine até aos distritos vizinhos de Morrumbene, Massinga, Panda, Zavala e as cidades da Maxixe e Inhambane. “ A partir da própria empresa vendemos até 90% dos nossos produtos, escoando o resto para fora. Ainda assim ainda so conseguimos satisfazer 60% das necessidades do mercado: estamos empenhados para fechar este défice”, afirma Clersio Almeida, Gestor Administrativo da empresa.

Vendedeiras comprando tomate na empresa Inhamussua Agrícola

Segundo o gestor, a Inhamussua Agrícola tem potencial e planos para expandir as suas culturas, nomeadamente para incluir a produção de licha. “Esperamos ter parceiros para esta expansão…”, acrescenta.

Aldeia de combatentes de Chingiguire

Enquanto isso, na localidade de Chinginguire , habitada por antigos combatentes da luta armada de libertação nacional e seus descendentes, floresce um projecto de produção de banana. Por alturas da realização da presente reportagem, o projecto contava com oitocentas mil bananeiras, que produziam por semana cinquenta e duas caixas de banana, de 7 quilos cada. O quilo é comercializado a 15 meticais e jamais faltou mercado. Este é um projecto de uma associação local de agricultores, maioritariamente de antigos combatentes da luta armada de libertação nacional e seus descendentes, oriundos de diversas partes do país nomeadamente Niassa, Cabo Delgado, Tete, Manica e Sofala. Fundada há mais de 20 anos, originalmente como “Machamba do Povo”, com mais de 100 membros, neste momento ela conta com perto de 50 membros.

Combatente de libertação nacional na sua horta de pimentos

Os combatentes contam o seu percurso, desde meados da década de 1970, com natural orgulho. “Todos viemos para aqui como desmobilizados da luta armada de libertação nacional. Eu cheguei aqui em 1981. Nessa altura isto tudo era mato. Não havia quaisquer vias de acesso. A nossa base de vida é a agricultura. Produzimos sobretudo hortícolas. Mas por vezes a motobomba fica avariada, e isso torna a produção muito baixa”, conta Wache Calo.

Por seu lado, Belarmino Flores, chefe de produção da associação, está aqui fixado desde 1974. Tem oito filhos, que afirma ter conseguido manter na Escola com os rendimentos agrícolas. “Dos meus filhos, um é formado em engenharia mecânica; um outro é professor. As três meninas também estão empregadas” , acrescenta, orgulhoso.

Flores explica que a produção tende a baixar devido a irregularidade do sistema de regadio, actividade que era assegurada por o empresário privado, que entretanto interrompeu as suas actividades e deixou o distrito, por motivos de saúde.

A mandioca é uma das culturas mais abundantes no distrito de Homoine

Mas, além de projectos empresariais ou associativos, em Homoine também tem emergido iniciativas económicas individuas de sucesso. Tal é o caso de Rogério Gemusse, um agricultor que trabalha uma área de três hectares e meio, onde faz horticultura e culturas de sequeiro, como milho e mandioca e amendoim.

Por enquanto Gemusse ainda não conseguiu explorar todo o terreno do seu DUAT (direito de uso e aproveitamento da terra), e está expectante em conseguir reforço em investimento que lhe permita alavancar a sua produção, com especial enfoque para a introdução de um sistema de irrigação.

“Tenho recebido muitas visitas, com promessas de investimento, mas sem concretização. Preciso no mínimo de 150 mil meticais para dar o salto decisivo que me falta”, realça Gemusse.

O apoio do governo distrital

O governo local tem dado incentivo aos produtores no que concerne a insumos agrícolas e equipamento diverso. Um centro de multiplicação de plantas foi criado com vista a massificar a produção do caju e outras plantas fruteiras.

As plantas são cedidas a custo zero aos camponeses; aos singulares privadas elas são vendidas por entre 15 e 50 meticais.   Prevê-se que, no futuro, o centro de multiplicação venha integrar a componente de processamento da castanha de caju.

Atraccão de investimentos

Josina Chissico, Administradora do distrito referiu que o distrito está aberto a receber investimentos, sobretudo na area agropecuária.

Segundo referiu, acções de atracção de investimentos para o distrito têm incluído feiras agrícolas e fóruns distritais de investimento, à semelhança do mais recente, realizado em 2018 “com muito sucesso”. Em tal evento, os agentes económicos locais anunciaram cometimentos de investimentos na ordem na ordem dos seis milhões, cento e setenta mil dólares americanos, com potencial para 230 postos de trabalho para o distrito. “”Alguns dos projectos anunciados já estão em marcha ou em processo de expansão” refere a administradora do distrito.

“Temos muitas áreas que os investidores podem trabalhar em Homoine, pois o que tem demais é espaço. só em Chindjinguir podem ser expandidas as áreas de cultivo; com terra muito fértil”, afirma. “Estamos abertos para receber investidores para abrirem “farmas”, praticar a aquacultura, piscicultura ou a criação de gado bovino”, acrescenta a administradora.

Reabilitação de infraestruturas sociais

Até há bem pouco tempo, e ao longo de varias dezenas de anos, a vila de Homoine ressentia-se de falta cronica de água, devido ao envelhecimento   das respectivas infraestruturas. O abastecimento de água era feito por operadores privados, a custos não comportáveis para a larga maioria da comunidade local.

Contudo em 2018, esta situação veio a mudar, quando um novo sistema de abastecimento de agua foi inaugurado, a 12 quilómetros do centro da Vila.

Estacão de Tratamento de água

Actualmente o desafio é expandir o acesso à agua para todos cinco bairros da Vila-Sede, não abrangidos na altura da inauguração da infraestrutura.

A reabilitação de infraestruturas sociais fundamentais, tais como o edifício do Governo Distrital e as principais artérias da Vila, emprestam uma imagem de vida renovada ao local. Igualmente, a asfaltagem da estrada que liga Homoine a Panda é um dos marcos significativos na restauração de infra-estruturas essenciais do distrito, permitindo ligação mais directa para a capital do país, Maputo.

Aspecto da estrada Homoine-Panda, reabilitada

Assim, na passagem dos 33 anos da tragédia de 17 de Julho de 1989, Homoine é um distrito no caminho do desenvolvimento, explorando o seu enorme potencial agro- ecológico, quereno recuperar o seu lugar de celeiro da província de Inhambane.

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Celia Sitoe (Texto). Nelcia Tovela (Fotos)

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